A DOR DO POETA
Uma faca que fere o peito do poeta
ele nunca a verá como sendo ameaça.
Ter a sua ponta furando até disfarça
que nasce dele mesmo essa dor que o afeta.
Se dor resultasse dessa faca que corta,
que faria ele daquela outra que, dentro,
corta, queima, expande para fora e adentro,
simulando que para o inferno é a porta?
Tão costumeiro fingidor, no fingir, sagaz
ele se revela. Disfarça a dor que é sua
por não desejar que ela conquiste destaque.
Pois todo aquele que de poeta se faz
com a dor pela vida afora compactua.
E não deixa que ela sofra qualquer ataque.