POEMA PRESO NA GARGANTA
Tenho um poema preso na garganta
Palavras que dão medo de compor
A cada dia ele cresce, se agiganta
E temo que transforme-se em tumor
Feito a semente, que pretende a planta
E desta planta desabroche a flor
Tenho esta dor que mata mas não canta
Seria um estopim, não fosse o estupor
Contudo o mundo de hoje me dá medo
Fazer poemas é como compor filhos
Pressinto que irei vê-los metralhados
O tempo é de mentiras, de arremedo
De fezes, maus poemas, de empecilhos
E canceres vêm sendo deflagrados