Soneto da compaixão
Filhos do descaso, vidas, todas ao leu
Serem negros, pardos herança de capital pecado
Ao relento das ruas à sorte do breu
Algozes de farda, a chacina, tudo planejado
Os anjos, sentinelas do sono, à volta
Dos menores, na noite derradeira não estavam
O esquadrão da morte, impiedoso, à solta
Aos inocentes dormindo metralhavam
Sob papelão, berço da miséria, o charco
De sangue, obra da covardia hedionda
Órfãos, do calvário, enfim, o eterno descanso
Demônios de farda a varredura a cada ronda
Pobreza e sujeira como sinônimas do cruel marco
Na impunidade o penhor do terror intenso