Livre Escolha
(Interação ao soneto CÁ ENTRE NÓS, do Poeta
Carioca)
Li em algum lugar, não lembro onde,
Num livro sério ou num folhetim,
Que o que respiro me leva ao fim,
É justo ali que a morte se esconde.
O indispensável oxigênio,
Ao mesmo tempo que nos dá a vida,
Saca parte dela quando oxida,
Um tipo de taxa, ou anuênio.
É assim, deste modo tão corriqueiro,
Que controla a nossa permanência
Neste grande hotel de onde é porteiro.
De qualquer modo a gente morre um dia.
Num caso de causa e consequência,
Não respira, vai, respirou adia.
O que nos envelhece e inexoravelmente leva à morte é o próprio oxigênio que nos mantém respirando: ao mesmo tempo fundamental à vida, mas às custas de nos levar à morte.
SUZANA HERCULANO-HOUZEL - Neurocientista, professora da UFRJ