Borboletinha, moradora de rua
Veste trapos. Do álcool dependente,
Mais velha do que a idade que tem, porém,
Simpática e grata, a beleza lhe vem
Em sorrisos de alma, ainda que sem dentes...
Não tem um lugar certo para dormir
Nas calçadas da cidade, ao relento,
A beber, com sede e fome, o sofrimento
Na "pinga" pedida, pra dor expungir...
Certamente, toda noite, quando dorme,
Revê, lá da janela, o jardim enorme
Da sua mansão luxuosa de outras eras...
E, sobre o papelão na calçada fria,
Vai cumprindo a expiação de cada dia,
Sonhando com jardim florido que a espera.
Sobral (CE), 22 de novembro de 2017