A NOSTALGIA DA ÁGUA
Passeia a gota de água de fonte em fonte
Por essa terra, toda vestida de mágoa,
E carrega em sua dor a nostalgia da água
Por vê-la escassear para além do horizonte.
Umas gotículas de suor na sua fronte
Num bailado contínuo de bágoa em bágoa
Que circundando, aqui e além, a dura frágua
Desliza em rio seco sob a velha ponte.
Não há sequer samaritana que resista
Àquela dolorida e triste rebeldia
Que, ao ver a sua vida passar por agonia,
Põe lágrimas salgadas em bilha fatalista.
Ó gota, que me tens cativo, mas desperto,
Lamento que não vejas no sofrido gado
A sede que ele tem de água por este fado
Tentando o refrigério na alma dum deserto.
Receio que não encontres gozo nem sorriso
Ao longo deste Outono sem identidade
E temo que t´evapores sem teres probidade
Pra tua sequidão qu´ anda a leste do Paraíso!
Frassino Machado
In JANELAS DA ALMA