A NOSTALGIA DA ÁGUA

Passeia a gota de água de fonte em fonte

Por essa terra, toda vestida de mágoa,

E carrega em sua dor a nostalgia da água

Por vê-la escassear para além do horizonte.

Umas gotículas de suor na sua fronte

Num bailado contínuo de bágoa em bágoa

Que circundando, aqui e além, a dura frágua

Desliza em rio seco sob a velha ponte.

Não há sequer samaritana que resista

Àquela dolorida e triste rebeldia

Que, ao ver a sua vida passar por agonia,

Põe lágrimas salgadas em bilha fatalista.

Ó gota, que me tens cativo, mas desperto,

Lamento que não vejas no sofrido gado

A sede que ele tem de água por este fado

Tentando o refrigério na alma dum deserto.

Receio que não encontres gozo nem sorriso

Ao longo deste Outono sem identidade

E temo que t´evapores sem teres probidade

Pra tua sequidão qu´ anda a leste do Paraíso!

Frassino Machado

In JANELAS DA ALMA

FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 19/11/2017
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