Os políticos
As pombas
Raimundo Correa
Vai-se a primeira pomba despertada...
vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas
de pombas vão-se dos pombais, apenas
raia sanguinea e fresca madrugada.
E à tarde, quando rígida nortada
sopra, aos pombais, de novo, elas, serenas,
ruflando as asas, sacudindo as penas,
voltam todas em bando e me revoada...
Também dos corações onde abotoam
os sonhos, um a um, céleres voam,
como voam as pombas dos pombais;
No azul da adolescência as asas soltam,
fogem... Mas aos pombais as pombas voltam,
e eles aos corações não voltam mais.
Os políticos
Ary Viotti
Vai-se o primeiro político safado...
vai-se outro mais... mais outro... enfim dezenas
de políticos vão-se de Brasília, apenas
em férias natalinas ou recesso parlamentar.
E em março, quando leis para serem votadas
os obrigam, à capital de novo, eles serenos,
arrumando as gravatas, ajeitando os ternos,
voltam em bando e em revoadas.
Também dos nossos bolsos onde abotam
alguns trocados, um a um, céleres voam,
como voam os políticos marginais;
No congresso da indecência os safados falam,
fingem, mas à Brasília os políticos voltam,
e os trocados aos nossos bolsos não voltam mais.