LEGADO
Meu corpo inerte jaz em flores mortas,
jardim funéreo... de imprestável horta!
Outros corpos, estes ainda quentes,
se aglomeram à volta do eu ausente.
O sino estrila em meus ouvidos moucos.
Derradeira e vil noite de domingo.
Se aos desgostos, em vida, fora rouco...
A morte será o palco em que me vingo!
E meu legado? Filhos, obras, livros?
Fecham-se à tumba em que meu corpo crivo?
Por herança, guardo ressentimentos...
Plantado ao solo, brota do eu semente,
regado a lágrimas, safra insistente...
Incolores frutos do esquecimento.
*em interação ao magistral soneto INCOLOR do Poeta Carioca.