URUBU
Urubu, companheiro dessa vida,
sombra nos passos tortos, sentinela
das horas tristes, voa, à paralela
miséria, a mim sempre repetida.
À podridão de minha alma fedida,
procede ainda com toda cautela,
mas sei que guardas sede na goela
para quando jugares na medida.
Espreitas da fraqueza um só momento
fatal, que a hesitação no corpo vença,
a alma quebre, prospere uma doença:
o fim de todo nosso sofrimento.
Vendo que o tempo tudo decompôs,
enfim será feliz um de nós dois.