A ENCHENTE

A ENCHENTE

Perdi tudo o qu'eu tinha em minha casa:

Inúteis os retratos, livros, discos...

Voltei assim que pude; corri riscos,

Para rever só restos n'água rasa.

Mesmo agora, o arroio ainda vaza

Pelas frestas dos pórticos mouriscos.

Enquanto apenas pássaros ariscos

Pousam sobre gradis que a chuva arrasa.

Molhadas, as lembranças e a mobília

S'entulham pelos quartos da família

Sem que nada se possa aproveitar.

Acendo no salão outra candeia

E admiro àquele caos como se alheia

A vida que vivi n'este lugar.

Betim - 15 09 2017