Minha primeira metáfora
Luciana Carrero
Quem me pensou nascendo para a sorte
Foi minha mãe na hora de parir-me
A seguir silenciou na paz da morte
Que olhou-me e disse grave para eu ir-me
Fui apitada pelo trem na porta
Na estrada férrea que passava perto
Enrolada em panos chorosa e torta
Sentindo lá de fora um frio deserto
As mãos de meu pai no seu desajeito
Deram-me algo pra mamar num peito
De borracha dum vidro de refri
Maria Fumaça foi minha infância
Sacolejando em trens à tanta ânsia
Da fumaça fiz tudo que escrevi