NA ESTRADA DE DAMASCO * A voragem
Ah, velho Cronos, todo o tempo é de viagem!
O tempo, em seu correr, passando vai por mim.
E eu vou com ele, queira ou não, porque se vim
foi para me encontrar na cósmica voragem.
Que causa provocou o efeito de viver?
Que sonho de aventura é este movimento?
Que importa, deslumbrado, olhar o firmamento,
se nunca poderei aos astros ascender?
Que sedução, em Maio, a brisa mitifica
para enlaçar a flor à luz do entardecer?
A mesma brisa que virá para a perder
no altar do outonecer que o Belo sacrifica.
Ah, velho Cronos, vão é ser, vão é ceder
ao teu mecanicista impulso de correr…
José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 28 de Agosto de 2017.