Inspirado em Augusto dos Anjos. (reprodução)

VERSOS ÍNTIMOS

Vês?! Ninguém assistiu ao formidável

Enterro de tua última quimera.

Somente a Ingratidão — esta pantera —

Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!

O Homem, que, nesta terra miserável,

Mora, entre feras, sente inevitável

Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!

O beijo, amigo, é a véspera do escarro,

A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,

Apedreja essa mão vil que te afaga,

Escarra nessa boca que te beija!

Augusto dos Anjos

Olha!

Vês? Essa mão que t'afaga não merece,

qualquer prece, pois te engana pelo tato,

em aparatos, pra ti, a teia tece,

não obedece ao teu comando, finge o ato.

Inexato, infiel, não te apetece,

esquece a malicia dessa pantera

a fera te deixa em banho-maria, na espera

de um beijo que sem prazo, não acontece.

Apedreja essa mão que te falseia

ou mergulha nessa lama que te assola;

Pois, tocando aquela boca há língua alheia,

esquece essa quimera, ela te esfola.

Evita assim essa dor tão miserável

ou aceita, que a traição, é formidável.

Josérobertodecastropalácio

(Teimoso na poesia, entretanto um aprendiz entre tantos poetas).

JRPalacio
Enviado por JRPalacio em 24/08/2017
Reeditado em 24/08/2017
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