Inspirado em Augusto dos Anjos. (reprodução)
VERSOS ÍNTIMOS
Vês?! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão — esta pantera —
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
Augusto dos Anjos
Olha!
Vês? Essa mão que t'afaga não merece,
qualquer prece, pois te engana pelo tato,
em aparatos, pra ti, a teia tece,
não obedece ao teu comando, finge o ato.
Inexato, infiel, não te apetece,
esquece a malicia dessa pantera
a fera te deixa em banho-maria, na espera
de um beijo que sem prazo, não acontece.
Apedreja essa mão que te falseia
ou mergulha nessa lama que te assola;
Pois, tocando aquela boca há língua alheia,
esquece essa quimera, ela te esfola.
Evita assim essa dor tão miserável
ou aceita, que a traição, é formidável.
Josérobertodecastropalácio
(Teimoso na poesia, entretanto um aprendiz entre tantos poetas).