REPTILÍADA; ou: Soturno do Brejo (Soneto Decassílabo Vazado Em 14 Lágrimas De Crocodilo)
"Para onde vais, ó jacaré larápio?"
Foi o que eu indaguei à aquele bicho.
"Embora vou-me, mas não é capricho;
Não quero fazer parte do cardápio."
MOTE, ou TETRÂMOTE, do poeta barroco Elpídio Salústio, do qual me emprestei o primeiro verso.
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Para onde vais, ó jacaré larápio?
Por que margens a glauca cauda susta?
Ai do altivo corcel, potranca augusta
Que por quase planar supõe escape-o.
Por que sorris, ó jacaré caduco?
Vossos dentes, mostrais a que carrasco?
Em filetes jorrais o amargo suco
Que as famílias devoram num só asco.
Por que rolais, ó jacaré medroso?
Acaso a palidez da nova aurora
Irrompe em vosso hálito estrondoso?
Não penseis que o carinho que vos deixo
Será gratuito, ó jacaré que aflora
Como em prados de bronze um quebra-queixo.