REPTILÍADA; ou: Soturno do Brejo (Soneto Decassílabo Vazado Em 14 Lágrimas De Crocodilo)

"Para onde vais, ó jacaré larápio?"

Foi o que eu indaguei à aquele bicho.

"Embora vou-me, mas não é capricho;

Não quero fazer parte do cardápio."

MOTE, ou TETRÂMOTE, do poeta barroco Elpídio Salústio, do qual me emprestei o primeiro verso.

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Para onde vais, ó jacaré larápio?

Por que margens a glauca cauda susta?

Ai do altivo corcel, potranca augusta

Que por quase planar supõe escape-o.

Por que sorris, ó jacaré caduco?

Vossos dentes, mostrais a que carrasco?

Em filetes jorrais o amargo suco

Que as famílias devoram num só asco.

Por que rolais, ó jacaré medroso?

Acaso a palidez da nova aurora

Irrompe em vosso hálito estrondoso?

Não penseis que o carinho que vos deixo

Será gratuito, ó jacaré que aflora

Como em prados de bronze um quebra-queixo.

Péricles Ventura Neto
Enviado por Péricles Ventura Neto em 14/08/2017
Reeditado em 14/08/2017
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