O AUTO DE GILGAMESH; ou: Reflexões de um Cego sem Imagem (Soneto Decassílabo Dos Últimos Dias)
Dúbio, tateio em meio à treva densa,
Cego e sem fé no mundo, iconoclasta,
Vagando à toa... O crime então compensa?
Pergunto e não respondo. E isso me basta.
A vasta névoa espessa da cidade
Cobre-me os pés como um carpete fundo.
Piso na lama etérea desse mundo
Sem um porquê... Sem uma identidade...
Desde Alcácer-Quibir a Waterloo,
A história se repete, em ciclo eterno,
Mas de que vale vê-la em passe-partout,
Como passagem de ida para o inferno?
É-me impossível de entender. Desisto:
Nem me finjo de tolo, nem Mefisto.