O BELO ANTE O DESENCANTO

O amanhecer ensolarado crava

os dentes finos na aflição ardida,

perfura fundo, derramando a lava

no breu da essência até então contida.

E a lava invade, engole tudo à frente

e apaga o dia, afoga a luz, a trilha,

bem como amenos tons do sol poente;

o belo é agora o algoz que espanca, humilha.

E o rio é ácido que a Terra expele...

A brisa é tórrido ar que fere a pele...

E a rosa, o pútrido que o verme rói...

Qualquer matiz bonito ao ser que pena

de desencanto, angústia se apequena

em vil tripúdio à dor que eterna dói.