Soneto a cores
Se ao correr da manhã cutuca o tempo,
que ao gracejo de um bordado fia
às minhas preces, pontas de um lamento:
nas linhas que não sei, escrevo o dia.
E ao sestear à sombra de uma estrela
uma rosa gorda aos olhos me paria.
Nascia ali, escandalosa e bela,
abespinhada flor, a poesia.
E era tanta a cor que se esgoela,
de se convir por trás da cercania,
tão contorcido o verso à primavera.
Louco seria eu, serias tu, querer contê-las,
se pra nascer nos basta a teimosia
e a placenta distante das estrelas.