SONHOS ÓRFÃOS
Há tantas coisas que dizer não pude:
murmúrios ardorosos, meus segredos,
aqueles que, cumprindo a sina rude,
findaram prisioneiros desses medos.
Há tantos beijos mortos na quietude
dos sonhos órfãos, lôbregos degredos,
onde escondi também a infinitude
das emoções, os meus olhares ledos.
Guardados num silêncio sem motivo,
os mimos que não dei naqueles dias
são folhas do meu lívido diário.
Aflijo-me porque, neste calvário,
eu fico a relembrar que me querias
e, amando, de grilhões me fiz cativo.