Soneto fora de forma

13/6/17

Me disseram que estou meio fora de forma.

Assustei-me, será que não dava para me enxergar?

Ponderei e percebi que na verdade há uma fôrma

A qual todos devem se enquadrar.

Ufa, existo, por fim! Apenas não sou aceita

Pelo olhar alienado desta maldosa seita

Que corta, aperta, estica e de tudo inventa

Para dizer que você não é perfeita.

Ufa de novo, pois só é perfeito o pronto,

Já acabado, sem possibilidades de mudar.

Para mim é você um bicho tonto

Se quer acabar com a sua vida para caber

Onde querem te encaixotar.

Para mim o mundo é o limite, quero sim é viver!

Sinto-me adequada, saudável, possível

E imensamente, satisfatoriamente humana.

Tenho forma gorda, forma perfeitamente viável

Daquela que vive e à vida ama.

Você sempre tenta cortar-me para encaixar

Em uma medida exata e estreita de aceitar.

Não sou pé de lótus, não quero espartilho,

De todas as tuas amarras do que posso me desvencilho.

Flutuo com meu corpanzão nas possibilidades de ser

Sem aparar minha capacidade de ser pela balança,

Por que queres não me porei a tristemente padecer

Sendo que às estrelas minh'alma alcança

Enquanto minha cabeça é a única presença

Sobre meu corpo, foco da tua doença.

(sei que o soneto está fora de forma, por isso é conceitual, faz parte da leitura do poema)

Laura Lucy Dias
Enviado por Laura Lucy Dias em 17/06/2017
Código do texto: T6029860
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