Inescrutável Ciclo
"Morte (...) Diante de ti, nas catedrais mais ricas,/ Rolam sem eficácia os amuletos,/ Oh, senhora dos nossos esqueletos/ E das caveiras diárias que fabricas!" (Augusto dos Anjos)
Inescrutável Ciclo
A terra na qual piso é tão instável
Como oculto túmulo da matéria
Ou uma urna embrionária funérea
Porvir de uma existência miserável
E o homem regojiza enquanto aguarda
O lento apodrecer misterioso
Na insana espectativa do gozo
Da carne convulsiva atordoada
Chafurda com essa ilusão sobre o pó
No ápice do prazer se enxerga só
Eminente visitante do inferno
Num átimo recorda o traço de um rosto
Com o olhar afetuoso nele posto
Fechando o inescrutável ciclo eterno
(Edna Frigato)