Brasiléia iracêmica

Entre as ficções românticas, a boa mesmo é Brasília:

espectro febril nos mares cerrados, jóia grã-fina de lata,

diamante do homogêneo, vaca do presépio burocrata,

Luís XVI em seu Versailles, Iracema de casta vigília.

Pode ser que um dia a tomem como um “Ela” subjetivo

de obscenidades mais remotas. Mas deixem o mamilo

transcorrer mímico seu rio-rua torto como um risco vivo

e arquitetar estátuas de luz para imigrantes sem burilo.

Porque Brasília não é pior, nem é melhor: Brasília é.

Tem um quê de agitação de futebol, de boa cerveja,

faculdades onipresentes, carruagens em marcha a ré,

pedintes de mão fechada, voto que alguém me eleja,

democracia de papel, caule torcido, água inventada,

brasileiros - quase todos o mesmo tudo - e nada.