ROTO VERNIZ

Tenho medo do verniz que recobre todo o nada!

Que dá brilho refratário ao que nunca iluminou:

Os escuros bastidores da escuridão nefasta

Que o tudo degenera, de quem sempre acreditou.

Tenho medo da eloqüência no pódio do mesmo nada!

Envaidecido na sandice de quem só promete ser...

Tenho medo da palavra da garganta engravatada

Da voz rouca agigantada para o nada proceder.

Tenho medo do diploma duma toga alienada

Quando ela algemada ao tudo que nunca foi...

Da platéia alvoroçada a verter embriagada

Seu destino de mais nada, selada* “sina de boi”.

Mesmo medo que verseja minha rima assustada

Aqui desenvernizada a sangrar seiva de dor.

Nota* analogia à já versejada vida de Gado, em ADMIRÁVEL GADO NOVO de Zé Ramalho.