Soneto de Partida
Negando os laços frágeis dessa vida
Meu próprio sangue ver correr as mãos.
Não temam por minh’alma meus irmãos,
Mãe, não sofra na ausência, querida.
Mais que todas, viver é dura lida.
É por abrandar-me o jugo que aos vãos
Da morte me enveredo. A paz dos sãos
convosco esteja, almejo de partida.
Perdão se deixo a vós dura tormenta,
À face lhes imputo o duro pranto.
Saibam, livre serei e que me contenta
O amor que deram salva-me, portanto,
Renovem ao pensar que me foi benta
A morte, qual a um frade, louco ou santo.