Dois Sonetos muito Antigos

Que fez de mim esta vida maluca?

Quem sou eu? Que fez de mim o passado?

Sou como um machucado que machuca,

E vivo sempre, sempre machucado.

Que trago dentro desta minha cuca?

Por que me calo e vivo tão calado?

Quando penso caio numa arapuca

E me arrependo, então, de ter pensado.

Quando medito é que percebo o nada

Que há em tudo, e, com a alma assustada,

Pergunto ao mundo por que tudo é assim.

Mas, ao olhar tristemente o mundo além,

Percebo o nada que ele é também

E o grande nada que ele fez de mim.

II

Quando criança vesti a fantasia

Que me deram, fui palhaço assim,

E, palhaço, fiz o que não queria,

E a vida então fez o que quis de mim.

Dei gargalhadas cheias de agonia,

Derramei lágrimas sorrindo, enfim,

E a platéia aplaudiu quando devia,

E eu vi que o show jamais teria fim.

O tempo passou e não percebi.

Um dia subitamente cresci

E a fantasia não me coube mais.

E hoje, depois de tantos anos idos,

Foram-se os meus sorrisos fingidos,

Ficaram minhas lágrimas reais.

Vagner Rossi
Enviado por Vagner Rossi em 01/05/2017
Código do texto: T5986944
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