AMONTILADO

AMONTILADO

O sol se põe na taça de xerez

Por respiro do espírito cativo:

D'um lado agradecia d'estar vivo;

D'outro, se aborrecesse ali talvez...

O olhar a se perder por sua vez

Tem a ver com andar tão emotivo,

Que se pega chorando sem motivo,

E culpa, suscetível, a embriaguez...

Ao ocaso lhe revele sua verdade

Adormecida há décadas na adega,

Para o gozo d'alguma mocidade.

Mas tenha sempre d'ele uma fé cega,

Visto do amontilado a qualidade

É dar exacto quanto a vida nega.

Betim – 10 04 2017