Soneto

Estou cego, mas amplio minha visão.

Estou surdo, mas ouço o próprio silêncio.

Minha carne pesa menos do que um grão,

minha alma traz em si um abismo pênsil.

Sou um bandoleiro ébrio na amplidão,

tangendo um alaúde que me vence, o

poente se abre em rubra extrema-unção,

e, se o eterno é um dado bruto, pense-o!

Sou uma criança lunar cheia de ardor,

reminiscências, e a luz do porvir

banha meus passos de eterno viajor,

e eu caminho sonhando, a sorrir,

e se sorrio não sei se é por dor,

ou por saber nos meus passos florir.

Vagner Rossi
Enviado por Vagner Rossi em 09/04/2017
Código do texto: T5965906
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