Soneto
Estou cego, mas amplio minha visão.
Estou surdo, mas ouço o próprio silêncio.
Minha carne pesa menos do que um grão,
minha alma traz em si um abismo pênsil.
Sou um bandoleiro ébrio na amplidão,
tangendo um alaúde que me vence, o
poente se abre em rubra extrema-unção,
e, se o eterno é um dado bruto, pense-o!
Sou uma criança lunar cheia de ardor,
reminiscências, e a luz do porvir
banha meus passos de eterno viajor,
e eu caminho sonhando, a sorrir,
e se sorrio não sei se é por dor,
ou por saber nos meus passos florir.