Auto-retrato em Belo Horizonte
Sou um rapaz, mas já sem costeletas,
nesta Belo Horizonte sem idade.
As madrugadas são sempre insurrectas,
no purgatório ébrio da cidade.
Esta cidade me conhece há anos,
as avenidas só se cruzam em mim,
e entre cruéis cenários, tão urbanos,
a flor mais rubra cresce do Sem-Fim.
Ainda sei fazer poemas de amor
que se emaranham aos ferros retorcidos,
e o milagre faz brotar a flor,
ironizando os antros poluídos.
Sou um rapaz, caminho em meio ao bulício,
vou relembrando os tempos do meu bem,
as madrugadas no antigo Edifício
Maletta entre outros poetas também.
Tudo o que sei é que sou um rapaz
que ainda cultiva sonetos e amores.
Belo Horizonte de ferro se faz
e há aços vivos entre mortas flores.