Soneto Mendicante

Soneto Mendicante

Na manhã gélida, a chuva grossa

desliza em lágrimas de troça

sobre a minha face perturbada.

Máscara de dor desenganada

pelo esgar da solidão vetusta

de trágico-cómica que assusta.

Nas ruelas prenhas de poças de água

piso feroz, de raiva e de mágoa,

lamas sujas de lixo urbano

- comunhão perfeita - eu, ufano,

mendigo andrajoso repasto

do mundo incapaz e me afasto.

Já nem alma tenho! Esqueci

para que demo sagaz a vendi.

E o coração é só pendular

que suporta este vadiar.

Não existem mais noites de sonhos

febris, nem dias futuros risonhos.

O tempo desfila impotente

no vazio de quem já nada sente.

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Poeta sem Alma
Enviado por Poeta sem Alma em 04/03/2017
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