Soneto Mendicante
Soneto Mendicante
Na manhã gélida, a chuva grossa
desliza em lágrimas de troça
sobre a minha face perturbada.
Máscara de dor desenganada
pelo esgar da solidão vetusta
de trágico-cómica que assusta.
Nas ruelas prenhas de poças de água
piso feroz, de raiva e de mágoa,
lamas sujas de lixo urbano
- comunhão perfeita - eu, ufano,
mendigo andrajoso repasto
do mundo incapaz e me afasto.
Já nem alma tenho! Esqueci
para que demo sagaz a vendi.
E o coração é só pendular
que suporta este vadiar.
Não existem mais noites de sonhos
febris, nem dias futuros risonhos.
O tempo desfila impotente
no vazio de quem já nada sente.
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