ESTA LIRA DE MIM * A espera

Ensombra o teu sorriso um rictus de tristeza.

O teu olhar vagueia além do tempo-agora.

E sempre, num vaivém de espera e de incerteza,

ausente nos esconde a angústia da demora.

Teu corpo exausto e nu, doído de mazelas,

num vago estremecer de fera encurralada,

desmaia, num palor de antigas aguarelas,

anseios e clarões de antiga madrugada.

Das tuas hirtas mãos, suspenso ainda o alor

dum êxtase de luz que a noite enegreceu.

Amor, onde estará, sortílego, o pintor

que quis transfigurar-te e desapareceu?

Sem tinta nem pincéis, sem tela nem talento,

Meu vivo coração te dou por alimento.

Alentejo, 18 de Dezembro de 2006

José-Augusto de Carvalho

José Augusto de Carvalho
Enviado por José Augusto de Carvalho em 23/02/2017
Reeditado em 24/02/2017
Código do texto: T5922117
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