ESTA LIRA DE MIM * A espera
Ensombra o teu sorriso um rictus de tristeza.
O teu olhar vagueia além do tempo-agora.
E sempre, num vaivém de espera e de incerteza,
ausente nos esconde a angústia da demora.
Teu corpo exausto e nu, doído de mazelas,
num vago estremecer de fera encurralada,
desmaia, num palor de antigas aguarelas,
anseios e clarões de antiga madrugada.
Das tuas hirtas mãos, suspenso ainda o alor
dum êxtase de luz que a noite enegreceu.
Amor, onde estará, sortílego, o pintor
que quis transfigurar-te e desapareceu?
Sem tinta nem pincéis, sem tela nem talento,
Meu vivo coração te dou por alimento.
Alentejo, 18 de Dezembro de 2006
José-Augusto de Carvalho