TEMPO DE SORTILÉGIO * Lisboa
Lisboa,
a menina dos nossos olhos!
Do cimo do castelo espraias teu olhar.
No Tejo banhas, noite e dia, os níveos pés.
Da barra, além, suspira, ainda, a voz do mar
nas lágrimas de nós salgando-lhe as marés.
Das índias, dos brasis, os cantos das sereias
embalam teu dormir de espantos e memória.
E o sangue corre ainda estreme em tuas veias,
o mesmo que te quis mais um padrão da História.
Agora, é outro o tempo, é outro o teu objecto,
mais íntimo, talvez, mas de exigente apuro,
de ti, por ti e à luz do sol que te encandeia.
Não queiras nunca mais ficar-te no projecto!
Não queiras adiar mais tempo o teu futuro!
Diz não a quem te quer tornar menina feia!
José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 16 de Novembro de 2006.