TEMPO REBELADO * Aqui!
Aqui, se rende ao mar a terra despojada.
Os sonhos de luar, bordados na fragrância
florida dos jardins da lenda perfumada,
sucumbem ao furor da ignara intolerância.
Do ledo murmurar das fontes, a memória
esvai-se devagar, num tempo de clausura.
Dos tempos de esplendor à mácula censória,
que triste condição ainda em nós perdura!
Que faço agora aqui com esta liberdade,
se em tudo o verbo ter supera o verbo ser?
Que sonho de evasão eu posso desta grade,
se a força do poder está no verbo ter?
Resisto e grito: não! E, ao sol deste dilema,
com sangue escrevo, letra a letra, este poema…
José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 15 de Outubro de 2006.
In "Tempo rebelado", em preparação