TEMPO REBELADO * Aqui!

Aqui, se rende ao mar a terra despojada.

Os sonhos de luar, bordados na fragrância

florida dos jardins da lenda perfumada,

sucumbem ao furor da ignara intolerância.

Do ledo murmurar das fontes, a memória

esvai-se devagar, num tempo de clausura.

Dos tempos de esplendor à mácula censória,

que triste condição ainda em nós perdura!

Que faço agora aqui com esta liberdade,

se em tudo o verbo ter supera o verbo ser?

Que sonho de evasão eu posso desta grade,

se a força do poder está no verbo ter?

Resisto e grito: não! E, ao sol deste dilema,

com sangue escrevo, letra a letra, este poema…

José-Augusto de Carvalho

Alentejo, 15 de Outubro de 2006.

In "Tempo rebelado", em preparação

José Augusto de Carvalho
Enviado por José Augusto de Carvalho em 17/02/2017
Reeditado em 03/03/2018
Código do texto: T5915570
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