A janela de meu curral
Vivo constantemente o terrível espanto
De ver através de minha pálida janela
Uma bela cidade cheia de mazelas
Com tremenda miséria, por todos os cantos.
Só há preto e branco nesta vasta aquarela
Que pinta as vielas deste triste recanto
Deixando nos rostos a marca dum pranto
Que tira o encanto de minha favela.
Aqui, José, já sabe o seu fim derradeiro:
Será mais um trabalhador sem rosto
— hereditário servente de pedreiro…
Carregando nos lábios o amargo desgosto
De saber que neste curral brasileiro
Alguns animais são mais iguais que outros!