SALÁRIO AMARGO
Passam-se dias, semanas e mesmo meses
A falar-se de um salário que é amargo
Sem que se diga abertamente aos portugueses,
Toda a verdade do que é pago por encargo.
Se é máximo ou mínimo, ou se é só às vezes,
Isso já ninguém trata porque faz estrago,
Pois o que importa é garantir para os fregueses
Que em eleições jamais possa existir embargo…
É triste que se invista o tempo em verborreia
E que sejam os números a vencer as pessoas,
Afinal os interesses superam a ideia
Que “o cidadão e o bem-comum são coisas boas”.
Mais salário, menos salário, é quiçá trivial
Pois o que é prioritário é o estrito cumprimento
Da democrática justiça social
Que dia-a-dia vai perdendo o seu alento…
Será que depois do costumeiro letargo,
Em que as palavras voam ao sabor do vento,
O salário comum será menos amargo
E a auto-estima geral terá seu acalento?
Frassino Machado
In RODA-VIVA POESIA