IMPESSOAL

IMPESSOAL

Há tempos não se sabe ser pessoa,

Antes mais um que n’esse mundo nasce.

Quem, de automatismo, um sorriso à face,

Deixa, se muito, alguma impressão boa.

Há que existir em vão cara-coroa

A escolher-se o devir no qual se outrasse

N’alguém que só a si e por si faz-se

Mas, por duplipensar, outra impessoa...

Se a vida é movimento, há um sentido

Ou a existência seria sensação...

Chove e faz frio mas, o coração

É preciso manter entorpecido.

Já nem reconhece em meio ao olvido

A sua própria voz na multidão!...

Belo Horizonte – 10 12 1998