SEM DÚVIDA O AMOR...

SONETO I

Eu, que nada tenho... Ou quase nada...

Reflito em que eu poderia ter:

A vida inteira bela e afortunada

Uma porta aberta ao vaidoso ser...

E uma fortuna tal acumulada

Que ter, seria mais do que eu ser:

Comprar os sonhos de conto de fada

Manipular dinheiro e poder...

Ter tantos carros, quantos risos largos

Comprar políticos, fazendas, ilhas

Sem empecilhos e quaisquer embargos...

Depois, levar a vida sobre as quilhas

Sem perceber sabores sempre amargos

Dos lábios falsos rubro-maravilha...

SONETO II

Que bom ser pobre, de proventos parcos

Ganhar o pão com o suor do rosto

Deitar-se em travesseiro, ao sol posto

Com a consciência de longínquos barcos...

No simples ser e apreciar os arcos

Dos arco-iris, mesmo ao mês de agosto

Que sem desgosto traz por sob o rosto

A primavera e as flores sobre os charcos...

Num riso estreito sobre a bicicleta

Ter poucos versos pobres de um poeta

E ser um pouco mais pra ter a vida:

Que é tão sofrida, mas feliz em prece

Pra quem se vai daqui ou permanece

Plantando o amor bem antes da partida...

Autor: André Luiz Pinheiro

08/11/2016