Prosopopéia
A palavra, em murmúrio sibilante,
Confessou a paixão para o papel.
No aproveito daquele nobre instante,
Arranjou seus padrinhos, pôs seu véu.
Em silêncio deitou as suas frases,
Tudo abriu, desde acentos a ditongos.
Fez, com o mundo, o que pode pelas pazes,
Quis seguir os caminhos tão mais longos.
O papel, nada casto e nem discreto,
Logo disse, a quem pode, este segredo.
A palavra, tão triste, impôs seu veto,
E jamais quis falar, de tanto medo.
Mas o orgulho que sobra é tão secreto,
Que o papel, sem saber, virou brinquedo.