Ad Mortem
Eu, um aedo sombrio, atro, obtuso e funesto
Que canto o horror mavioso até vagar sem riso,
Com os negrores vãos da carne úmida ao presto,
Sangro, cevo e vomito entre o lodo impreciso.
Refugio-me à tua árdua janela, em resto
Ao lembrar-te, sem soar, odeio o meu sorriso!
Transformo-me um zumbi atroz quando detesto
A vida eterna e bela, é o sofrimento liso.
Hoje a álgida carniça há de roer-me na pele
Que dirá ali: "doerás no rim, sacio nele!
A inviscerar a tua atra carne até doer."
Sim, prefiro morrer no meu caixão sangrado,
Depois que eu fique a moer o coração, sem fado...
Cevo-o violentamente e morro com prazer!
Lucas Munhoz - 20/10/2016