O velho mestre...

Não gosto de escrever poesia quando não se sabe o autor ou se as palavras foram trocadas pelo tempo...Esta poesia ficou marcada em mim. Em 1960 na formatura do quarto ano primário, declamei-a e no final estava em prantos, como se a história dos versos estivessem acontecendo...

Dedico a todos os professores e mestres do "Recanto das Letras" prestando a eles uma homenagem com louvor e de uma imensa admiração!!!

O Velho Mestre

“Andava muito doente o velho professor

Por isso ele não tinha o mesmo ardor

Que outrora possuía e que o animava antes

As vezes quando em aula, havia alguns instantes

Em que inclinava a fronte, aquela fronte austera

Onde já desabrochara a flor da primavera

E cochilava um pouco involuntariamente!

O velho professor, andava muito doente...

Um dia ele chegou tarde alguns momentos

Trazia nas feições sinais de sofrimento!

A palidez do rosto, os olhos avermelhados

Denunciavam seus pesares ignorados

E para tornar sua dor mais manifesta

Cravara-se fundo uma ruga na testa

Franzindo-lhe o rosto numa expressão de dor...

Andava muito doente o velho professor!

A aula começou, mas pouco depois das onze

O velho mestre, o bom batalhador de bronze

Que já perto de setenta anos ou mais havia

Que gigantesco herói, lutava dia a dia

Para o bem da pátria e o bem da infância

Sentindo uma dor aguda como um ferrolho

Curvou-se meigamente, cerrou de leve os olhos

Nisto ergueu-se um aluno...

Um fandengo um peralta

Fabricou de um jornal,um chapéu de copa alta

E bem devagarinho (oh!!!que ideia travessa)

Chegou ao mestre e zaz!!! enfiou-lhe na cabeça.

E rapidamente voltou ao seu lugar

Fora surgia o sol, a manhã era calma, risonha

A natureza enchia sua alma

Repleta de alegria e cheia de esplendores

Pela janela entrava o hálito das flores

E em toda a atmosfera, azul lavada e fina

Ressoava baixinho em surdina

Um canto celestial harmonioso e suave...

Anjos tocando harpa, alguma canção de ave

De súbito surge o diretor na sala

Fez um gesto, estremeceu-lhe a fala

Quando perguntou: Quem foi?

Quem fez tal brejeirice, sem respeito a esta velhice

Vamos lá, sejam leais verdadeiros e francos

Dizei quem ofendeu estes cabelos brancos...

Mas ninguém denunciou a brincadeira ou o autor

E como anjo dormia o velho professor

O diretor chegou-se junto à mesa

Via em seu rosto a incômoda surpresa

De que o sono do mestre assim se prolongasse

Curvou-se meigamente e levantou-lhe a face

Mas recuou...tremendo, horrorizado e absorto

Aniquilado e mudo! "O mestre estava morto..."

Autor dessa poesia( Renê Barreto)

Renê Barreto
Enviado por Walquiria em 17/10/2016
Reeditado em 15/10/2020
Código do texto: T5794230
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