O poeta e a carcaça
Se há uma mentira que nunca contei,
Vou dizer que escrevo com o meu peito,
Mas nunca neguei que mentia, ou era
Poeta, no entanto hoje digo que eu sei
Que jamais criei o meu verso, o defeito
Do poeta é dizer à carcaça, que é mera
Passageira, que ela fica como a alma
De um poeta, não fica, mas é levada
Pelo poeta para a fantasia e a calma
De criar uma realidade mentida e amada
Vem do poeta que diz a mentira sobre
A própria carne, e vai embalando o belo
Pelos tempos do verso cuja chaga abre
No peito daquele que viveu com mais zelo...