TEMPOS DE ARADO
A terra te mata, ó homem do arado!
A verga que abres te enterra também,
Aos poucos tu vais perdendo o teu bem;
Na estância da lida quedas dobrado.
O berro do gado é doutra agonia.
Do grão que tu plantas colhes migalhas,
Ficaste no tempo rasgando palhas
Só vendo na tarde o tombo do dia.
Junto ao pátio suprimiste o terreiro,
Num palmo de chão um grão cabe mais,
Tens de colher mais, mais que demais...
Além do aramado há quem vai ligeiro.
Teus horizontes se foram ao poço
Cevar o teu mate após tuas lidas...?
Não há mais espaço às prosas compridas
Nem mais para sesta após o almoço.
Fechar a cancela impõe tua sorte,
Chorar pelos filhos rumo à cidade,
Nesse reponte te mata a saudade
Que na tua idade é quase que morte.
Os teus lindeiros ofertam regalos.
Nem perguntaram se queres vender
E o que te pagam não dá pra comer
Mas é o que sobra além dos teus calos.
Tempos de arado, duros tempos idos!
Contraste vivido do hoje louco
Que não se contêm em viver por pouco
E sobre o passado passam batidos.