TEMPOS DE ARADO

A terra te mata, ó homem do arado!

A verga que abres te enterra também,

Aos poucos tu vais perdendo o teu bem;

Na estância da lida quedas dobrado.

O berro do gado é doutra agonia.

Do grão que tu plantas colhes migalhas,

Ficaste no tempo rasgando palhas

Só vendo na tarde o tombo do dia.

Junto ao pátio suprimiste o terreiro,

Num palmo de chão um grão cabe mais,

Tens de colher mais, mais que demais...

Além do aramado há quem vai ligeiro.

Teus horizontes se foram ao poço

Cevar o teu mate após tuas lidas...?

Não há mais espaço às prosas compridas

Nem mais para sesta após o almoço.

Fechar a cancela impõe tua sorte,

Chorar pelos filhos rumo à cidade,

Nesse reponte te mata a saudade

Que na tua idade é quase que morte.

Os teus lindeiros ofertam regalos.

Nem perguntaram se queres vender

E o que te pagam não dá pra comer

Mas é o que sobra além dos teus calos.

Tempos de arado, duros tempos idos!

Contraste vivido do hoje louco

Que não se contêm em viver por pouco

E sobre o passado passam batidos.

Vilmar Daufenbach
Enviado por Vilmar Daufenbach em 28/09/2016
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