Um poema árcade
Se houver uma esperança perante a languidez da vida,
Talvez ainda haja um amor por se encontrar, mas a dor
De viver na sofreguidão da lida faz eu mesmo chorar,
Por isso preciso da imensidão dos espaços, a sofrida
Paisagem dos campos das ovelhas onde eu possa à cor
Verde entre as árvores divisar, e, colhendo os frutos a provar,
Vou acompanhar a branca iluminada do sol que me sorri,
Mas o seu vestido sobre a grama, contornando as suas
Pernas lhe deixa ainda mais bela, como uma ovelha que vi
Ser devorada pelo seu próprio cão, um lobo que a viu nua
Banhando-se num rio e eu sofri a solidão desgostosa, mas
Resolvi permanecer vivo e virei poeta, a chorar pelas ruas
Da vida, bebendo e cantando os vagabundos, e, nas
Caladas das noites, chorei pela voz doce e esta não é sua...