Necrolatria

Em excelência e em putrefação, essa raiz profunda se desloca.

Essa fúnebre árvore que estendeu seus membros até o subterrâneo

Concebe de seus pálidos frutos decompostos o viver momentâneo.

E é dessa árvore necrologista, que vem à morte à quem a toca.

O tronco! O sumo-sacerdote do culto, o pilar negro que transformou

Nosso solo nesse infecundo prostíbulo ventre, um âmago lúgubre.

Que jamais poderá gerar um Messias, e gera esse rebento insalubre,

Esse lutoso ser pensante, que ergueu-se, bramiu, e nos desconformou.

O despertar na carne, o oculto, o despertar na alma, a necrolatria.

E em visão soberba admiramos o que víamos com pesar, como luto,

Porém, só agora enxergamos esse sentimento de verdadeira idolatria.

E todos se perguntam quem plantou essa semente do Apocalipse?

Quem preparou a terra para germinar tamanho negro colosso bruto?

Digo-lhes que foi nosso orgulho, refletido nesse obscuro eclipse.