Círios febris

Deixam no céu uma outra luz mortuária

Cruz e Souza

***

Tenho inda em vida, horrendo em alta febre,

uma visão — presságio insofrido. —

Doí-me o coração tão comprimido

por ser esta a chegada tua fúnebre.

Perfila das visões, teu vislumbre,

magoante, vagueia sem um sentido.

Fere-me na razão de ser regélido;

— sino febril que plange e que assim dobre! —

Hirto, o leito repousa finalmente,

meu corpo que traz lívidos tormentos,

crepitando dois círios lentamente...

Então a Morte vem tão de mansinho,

e eu digo de meus célicos lamentos:

— crepite-me também neste alvarinho.

***

São Paulo,

26 de Junho de 2012.

* Versos decassílabos no ritmo Heroico (6ª e 10ª).

Felipe Valle
Enviado por Felipe Valle em 04/09/2016
Reeditado em 04/09/2016
Código do texto: T5750060
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