A meus cuidados não confie um cão
A meus cuidados não confie um cão,
que mais baixo estou eu, bem mais abjeto.
À corrupção que aparta até o inseto
é onde há de descobrir meu coração,
alma de brisas, essa gruta sórdida.
Não espere de mim que sobrepuje
as idiossincrasias. Nada estruge
tanto quanto a tendência torpe e mórbida
da vantagem pessoal. Falsa empreitada
é viver: quem repara o sacrifício?
Quando é mais bela a vida que acabada?
O ouro que o mundo empresta, não cobice-o!
Por que há de acumulá-lo, alma eivada,
se lhe não extingüe a empáfia, o opróbrio, o vício?