SONÂMBULO

Inda estás retido, e o tabernáculo

Que te transporta é falível e mortal;

Quando cair ele, não faças tal;

Não te assemelhes ao habitáculo.

Te empenhes; que, no teu espetáculo,

O noturno se te fará matinal,

E o escuro, portanto, não mais real,

Descortinará os teus mil tentáculos.

E essas minguadas possibilidades

Que tens - alhures -, serão cem mil anos

Para finalizar - só -, teu preâmbulo.

Lembra-te do absurdismo de Camus

Quando acordares, e a humanidade...

Já for matéria passada, ó sonâmbulo!