Siwáng
Desencarnados num monte de entulho,
contados pela chusma do massacre,
exalando d'angústia um cheiro acre,
– uma gosma flexível de mortulho.–
Tabeladas as carnes no serralho,
cerrada dor humana por um lacre,
são consanguíneas imagens do ataque;
ao menino que chora no tombadilho.
Uns por cima dos outros, despedaça
membros numa saraiva de ameaça.
– O ódio dilacera a flama da aurora.–
Triste fim! Ele escala a mãe que morta,
o seio desnuda a sangue dessa hora,
no golpe de aflição que a tudo corta.
***
São Paulo,
06 de outubro de 2008
*Decassílabos no ritmo heroico.
**Em referência ao título do poema, significa morte em mandarim. E, este soneto foi baseado no quadro 'Massacre', do pintor chinês Lizijian.