CEMITÉRIOS

Para muitos é mero repositório

de resíduos, saudades, lamentos e tormentos humanos

Para outros, memorial de tristeza profunda e insana

Mas para mim, tem função divina e profana

Jaz sobre os ossos fértil terra

para sombria e reluzente imaginação

Para muitos o fim, pra mim, só o início

Do primeiro dia da criação

Como Shelley, ando pelas tumbas, profanando histórias

Coletando e costurando pedaços, misturando memórias

Como Quixote, vejo moinhos de vento virando gigantes

Com o sopro de minha tinta e a lira de minha voz

Tal qual Orfeu, recupero de Hades a vida subtraída

E desta vez será imortal, jamais restará corroída.