Encore
À quem devo culpar pela minha existência
Pela ausência d’um gesto amável e da poesia
Pela melancolia e pela eterna ausência
Que eu sinto de paixão e alegria
À quem condenar pela minha alma cansada
Pelas bandeiras hasteadas e pelos funerais
Pela tarde cinzenta, pela conversa fiada
Pela esmola negada, e por todo o demais
Minha vida é floresta onde o urso é lamento
Me sobra a tristeza e me falta o alento
Pois invade o meu peito danosa fumaça
Vendo a minha alma e o meu tempo
Vendo, para assim obter alimento
Pra manter de pé essa débil carcaça.