DERRETER-SE
Estar no mundo aguando feito gelo
ao sol de brasa agônica e sadista,
à espera de ir da vida surda a apelo
e sem deixar sinal, nenhuma pista.
Saber-se nada ao todo de iludidos
que pensam ser maiores, na importância,
que tudo à luz que existe, seus floridos,
armados com escudos de arrogância.
Olhar a turba ao vão da fechadura,
enquanto em gota esvai-se e desfigura
por sobre o entulho inútil do que se herda.
E achar-se um invasor, um forasteiro
banido por indócil hospedeiro
que lhe despeja a essência nesta merda.