Intragável mesquinhez é a vida
Guarda, meu coração, os presentes instantes,
pois da glória fugaz que me acalenta o ego,
num beijo fugidio e leve, não garantes,
eu sei, conservação alguma. A ti entrego,
coração — não hesito! —, os temores constantes;
mas não queiras jamais descobri-los, que és cego.
E retém, aliás, idéias repugnantes,
cenas das quais me calo e os erros meus que nego.
Do que sem pejo algum daria a arder ao fogo
cuida bem firme, amigo, e das horas perdidas;
guarda o que fui, pois vence o fado sempre o jogo.
Não é um vão clamor ou prece descabida,
pois na cova, maldito, após seguir meu rogo,
hás de ficar ileso: é exígua a morte à vida...